terça-feira, 17 de novembro de 2009

Teatro discute identidade racial


Ensaio Sobre Carolina
trata de questões raciais no Projeto Vitrine

Grupo formado por atores negros da EAD leva para o palco história

da catadora de papel que gerou livro e causou comoção pública quando lançado.

O preconceito e as desigualdades das relações são tratados

com elementos do teatro, dança e cultura afro




Baseado no diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus (1914-1977) publicado em livro com o título Quarto de Despejo, Diário de Uma Favelada (Ed. Ática), a peça Ensaio Sobre Carolina reestreia dia 17 de setembro, quinta, às 21 horas, na Sala Vitrine do Teatro Imprensa. O espetáculo faz parte do terceiro e último módulo do ano do Projeto Vitrine Cultural do Centro Cultural Grupo Silvio Santos. No primeiro mês da temporada, o ingresso é uma lata de leite em pó. Depois, passa a custar R$ 10,00 e R$ 5,00.

A montagem da Cia Os Crespos, sob a direção de José Fernando de Azevedo – especialmente convidado pelo grupo -, utiliza a dança, o canto e o corpo como linguagem. A Cia surgiu na EAD (Escola de Arte Dramática da USP), numa turma de alunos onde cinco integrantes eram negros. Houve uma organização desses alunos, que tinham em comum a vontade de discutir a sua formação e como foco estudar a história do negro nas artes cênicas no Brasil, numa instituição em que essa discussão não existia.

O Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, pareceu um bom ponto de partida para trazer à cena tais questões que, na história, são apresentadas através da fala de uma negra favelada: o olhar e o discurso da catadora de papel sobre sua realidade e o convívio na sociedade brasileira. Para o grupo, "Ensaio Sobre Carolina “é o discurso de atores negros sobre os vestígios dos dias na vida das Carolinas na cidade”.

Proposta de encenação

O diário e o livro de Carolina Maria de Jesus foram o ponto de partida para a construção da narrativa. O grupo, então, convidou o professor da EAD José Fernando de Azevedo, não por acaso único professor negro, para dirigir o espetáculo. Depoimentos de alguns atores do grupo foram incorporados a trechos dos relatos de Carolina. O diretor aproxima atores e espectadores em um campo público e afasta o tom sentimentalista confessional para criar um espetáculo em que a música e o corpo se tornam linguagem. Gestos de dança clássica são mesclados a ritmos de candomblé. “As intervenções das linguagens surgem como depoimento das mais variadas formas. Seja contradizendo o próprio texto, de forma ironizada ou completamente sincera. Mas sempre surpreendendo o publico“, conta a atriz Maria Gal.

A história de Carolina








Quarto de Despejo, Diário de Uma Favelada, lançado em 1960, virou comoção pública em São Paulo, com a tiragem de 14 mil exemplares esgotada rapidamente, sendo traduzido para 13 idiomas. Marcada pela pobreza, Carolina estudou até a segunda série do primário, era moradora da favela do Canindé e catadora de papel. Através de relatos sobre sua vida na favela, das dificuldades para criar os três filhos, a autora delata algumas estruturas sociais brasileiras, da época da modernização da cidade de São Paulo e da criação de suas favelas e, também, revela com sua escritura a importância do testemunho como meio de denúncia.

Com o sucesso, ela e os filhos saíram da favela e compraram uma casa em Santana. Os novos vizinhos a rejeitavam, os curiosos espiavam, alguns vinham pedir-lhe dinheiro, e carros estacionavam na frente da residência para vê-la. Fotógrafos e jornalistas invadiam sua casa solicitando que ela posasse ao lado dos filhos ou no chão lendo. A imprensa nacional e a opinião geral criaram muitas “histórias” sobre Carolina.

O livro inspirou também um filme realizado por uma televisão da Alemanha Oriental, em 1975, que utilizou a própria Carolina como protagonista de Despertar de um Sonho (censurado na época e ainda inédito no Brasil). Na mesma década, foi feita uma adaptação para a série Caso Verdade, da Rede Globo, com a atriz Ruth de Souza. Carolina morreu em 1977, por um abatimento respiratório, aos 63 anos de idade.


(Adriana Balsanelli/julho 2009)

SERVIÇO

ENSAIO SOBRE CAROLINA – Reestreia dia 17 de setembro, quinta, às 21 horas, na Sala Vitrine do Teatro Imprensa. Adaptação e Criação de Texto – Os Crespos e José Fernando de Azevedo. Direção – José Fernando de Azevedo. Elenco – Maria Gal (Ex Gal Quaresma), Lucélia Sérgio, Mawusi Tulani e Sidney Santiago. Músico - Giovanni Pereira. Trilha Sonora - Giovanni Pereira e Os Crespos. Preparação Corporal - Lívia Guerra. Preparação Vocal - Ana Gilli. Cenografia - Os crespos. Figurino - Os Crespos. Iluminação - Denílson Marques e José Fernando de Azevedo. Censura – 14 Anos. Duração – 100 minutos.

IngressosDe 17 de setembro a 9 de outubro – 1 lata de leite em pó, que deve ser trocada por 1 ingresso na bilheteria do Teatro com 1 hora de antecedência. De 15 de outubro a 4 de dezembro - R$10,00 e R$5,00 (meia entrada). Temporada – quintas e sextas às 21 horas. Até 4 de dezembro.


Teatro Imprensa – Sala Vitrine - Rua Jaceguai, 400 - Bela Vista - São Paulo. Fone - 11 3241- 4203. Capacidade – 48 lugares. Funcionamento da bilheteria - De terça a domingo a partir das 14 horas. Acesso e facilidades para pessoas com deficiência física. Ar-condicionado. Formas de pagamento - Aceita pagamento em dinheiro e cheques. Estacionamento conveniado na Rua Jaceguai, 454 – Preço único R$ 8,00. Ingressos por telefone – Ticketmaster (11) 2846-6000 (de segunda-feira a sábado, das 9 às 21 horas) ou pelo site www.ticketmaster.com.br.


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