terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Espírito Natalino e Realidade

NATAL

CIRCUS DE SUANNES*

Achei muito interessante essas considerações sobre o Natal feitas por Circus do Suannes e publicada no Overmundo e compartilho aqui com vocês.




Há muitos adultos que acreditam em cegonha, em coelhinho da Páscoa e em Papai Noel. Essas pessoas acham que não é preciso fazer esforço para ganhar dinheiro. “Ganharás o pão com o suor do rosto alheio” diz a Bíblia deles, que ou vivem à custa de uma avó que os mima desde a infância, ou casam com mulher rica, ou são viciados em jogos de azar. Apresentam a chamada “síndrome de Peter Pan”, ou seja, são incapazes de amadurecer psicologicamente. Em tua família, se ela for uma família normal, deve haver pelo menos um parente que se enquadra nesse conceito, seja aquela tia que lamenta o fechamento das casas de bingo, seja aquele primo que lhe pede dinheiro emprestado e que jamais lhe pagará, seja o bonitão que namora tua filha e age como o personagem dos quadrinhos do Veríssimo. No fundo, ele supõe, no limite, que Papai Noel vai dar a ele de presente o prêmio da mega-sena, graças ao qual todos os seus sonhos serão realidade. 

Nada tenho contra o Natal, mas o fato de ser celebrado no mesmo dia em que teria nascido Jesus de Nazaré é apenas uma escamoteação, pois um fato nada tem a ver com o outro. Aliás, se nem o ano exato em que Jesus nasceu nós sabemos, que dizer de dia e mês? 

São comemorações inteiramente distintas, que a malícia de alguns religiosos e a esperteza dos comerciantes fizeram coincidir, como se uma coisa estivesse ligada a outra. Imagino o que aconteceria se a seleção brasileira de futebol tivesse ganho algum campeonato mundial no dia 25 de dezembro. Certamente muitos padres diriam que aí está uma prova definitiva de que Deus é brasileiro! E tome manjedoura adornada com o auri-verde pendão.

Meu querido Eduardo Galeano nos lembra que o local onde Jesus teria nascido era e é um deserto semi-árido, no qual jamais caiu um só floco de neve. E, no entanto, fomos ensinados desde criança a comemorar esse nascimento enfeitando pinheirinhos com flocos de algodão, imitação caseira da garoa consolidada pelo frio que teria caído sobre a famosa manjedoura. O que é a História, escrita pelos interesseiros!

Ele poderia ter dito também que a cor da roupa do Papai Noel, dito lá no alto do continente Santa Claus, foi imposta pela Coca Cola, “patrocinadora oficial do Natal”, fiada em que, assim como a criança mija pavlovianamente quando você abre a torneira do banheiro, nós também nos lembraríamos daquele refrigerante quando víssemos o velhinho de barbas brancas descendo pela chaminé de nossa tropical casa. Chaminé? Tua casa tem chaminé?

E ele poderia ter acrescentado que o velhinho, que no Chile é chamado Viejito Pascuero, teria sido inspirado em São Nicolau, um bispo nórdico que gostava tanto de criança (Epa!) que costumava distribuir brinquedos entre elas no fim do ano. Isso pouco tinha a ver com o nascimento de Jesus, tanto que na Itália os brinquedos são (ou eram, antes da influência dos neo-colonizadores, pais da famosa aqua nera del’imperialismo, como se dizia em minha mocidade) distribuídos no dia de Reis, em lembrança ao fato da visita dos magos à manjedoura, a que se refere a tradição cristã, algo que na Bahia é chamado de sincretismo religioso e aqui nem sei se merece o nome. O teólogo e poeta Rubem Alves, aliás, tem um belo texto sobre eles.

Como isso chegou aos publicitários norte-americanos, que, juntando o útil ao agradável, acabaram contaminando uma data religiosa com essa pitada de consumismo, é coisa para não admirar. O fato é que Saint Nicholas, Saint Nick, Father Christmas, Kris Kringle, Santy ou Jolly Old Elf tornou-se Santa Claus, uma corruptela do nome do tal bispo: Sinterklaas, uma síntese de Sint Nicolaas. Em inglês, Saint Nicholas.

No espírito do show-business natalino, um shopping center de São Paulo, desses que promovem periódicos sales, com mercadorias em off, e que não usam o sistema delivery, contratou rapazes e moças, fantasiou-os como príncipes, princesas, fadas, gnomos e elfos (alguém por aqui sabe o que é um elfo?), espalhando-os pelos pisos do edifício, forçando a construção de um “ar natalino”. Dois deles passam por mim e se dirigem a um grupo de moças, que eles saúdam alegremente. Elas, com o ar aborrecido de quem havia sido interrompido quando cuidava de assunto importante, recuam, deixando-os passar por elas, sem nada dizerem. Eles apressam o passo, dirigindo-se sabe-se lá a quem ou aonde. 

Mais adiante, ouço uma saudação às minhas costas: "Olá! Como vai?" Era um "príncipe", saudando uma garota de uns cinco anos, que, na companhia dos pais, olhava, muito assustada, para o moço fantasiado. Os pais não mostravam o menor entusiasmo pela presença de Sua Alteza, que permanece com meio sorriso no rosto, enquanto o trio se afasta, sério. 

Desço alguns lances de escada e agora é uma fada e sua acompanhante, ambas devidamente paramentadas, que tentam arrancar um sorriso do japonesinho que se esconde entre as pernas dos pais. Os japoneses limitam-se a conservar a expressão que têm todos os japoneses. Reparo que por ali pessoas vão e vêm, com o mesmo aspecto que têm as pessoas que vão e vêm pelo viaduto do Chá durante os dias da semana. Ou pela rua Direita. Saio do shopping com a sensação de que os contos de fadas não estão com nada. Ainda se fosse a "Liga da Justiça"... Essa, certamente, como diriam meus netos, é dez. 

O Felipe certamente não gostou nada daquilo, não vendo a hora de sair de um local onde só havia malucos, como me segredou discretamente. Nem precisava, pois com aquele beiço...

À noite, eu e minha mulher vamos a um determinado restaurante, no bairro dos jardins, onde se realizará uma "festa de confraternização" patrocinada por uma entidade a que pertencemos. É uma casa minúscula, cujo proprietário aproveitou todos os espaços para colocar mesas e cadeiras, só sobrou o teto e parte das paredes. Quando a pessoa sentada às suas costas vai levantar-se, a cadeira dele esbarra na tua, exigindo que você comprima a barriga contra a mesa para que o vizinho possa sair. Ou, no limite, fique de pé. Os grupinhos vão-se acomodando como dá, ocupando as separadas mesas. Um sinalzinho de mão ou um beijinho enviado com dois dedos sobre os lábios é a saudação dos que se conhecem. Cada um se serve junto a um balcão situado em ponto estratégico da casa, algo nada diferente do “por quilo” da semana. Com o passar do tempo, alguém se levanta, ergue e balança o braço direito, dando um lento giro no corpo, em sinal de que se está retirando. É um ritual que faria orgasmar o Roberto Da Matta. O ritual se repete de tempos em tempos, até que uns poucos nos reunimos na calçada, em frente ao restaurante, onde cada um tem de pagar pelo estacionamento do seu carro, que fica ali aguardando, com aquele ar de quem fica aguardando automóvel nos demais dias do ano. 

Ali, um casal, desenxabido, pergunta pela confraternização que iria haver. “Já houve”, diz alguém, sarcástico, às nossas costas. 

O ar cansado dos que esperam o manobrista trazer o automóvel não deixa dúvida quanto a isso: aquilo foi apenas mais um cumprimento de ritual, mais um compromisso como tantos que nos haviam ocupado durante o ano prestes a findar-se. 

Uma senhora suspira e comenta que ainda lhe falta cumprir um derradeiro ritual: preparar a ceia, recepcionando "aquele bando" que devorará em menos de 10 minutos o que ela levou horas para preparar. E mais uma vez eles se levantarão da mesa sem uma palavra de elogio ou de agradecimento. “Nem a tirar a mesa eles me ajudarão”, suspira ela.

Penso ouvir lá longe algum anjo tocando harpa. Reconheço a música: djingo bél. E noto que a harpa, como certos uísques, é paraguaia, tocada pelo Luiz Bordón.

Fonte:http://www.overmundo.com.br/banco/natal-5
CIRCUS DE SUANNES* - É Jurista e Escritor, autor de livros como “Que é o Habeas Corpus”, “Noções de Direito Público e Privado” e “Os Fundamentos Éticos do Devido Processo Penal”, além de incontáveis artigos em revistas especializadas e colaborações em obras multiautorais. 

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cinema e Questão racial



"Meu Brasil"

Nosso público merece  um filme como “Meu Brasil” que foge de clichês 
para mostrar a realidade das favelas por quem vive e trabalha nelas.




O filme "Meu Brasil", já está em cartaz no Unibanco Arteplex do Rio de janeiro. Em São Paulo, 
a estreía foi adiada para fevereiro de 2009 ainda sem uma data correta mas com exibição
no Unibanco Arteplex, com horário a confirmar.
O documentário de longa-metragem, que teve ótima repercussão
pelos festivais por onde passou e já emocionou platéias universitárias em Nova York,
permitirá agora que o público brasileiro também reflita sobre o nosso Brasil.
Uma realização da VideoForum Filmes com co-produção da Telenews, “Meu Brasil”
surgiu de uma pesquisa de quatro anos feita por Daniela Broitman sobre a vida e o
trabalho de líderes comunitários do Rio de Janeiro.
Com um novo olhar sobre o Brasil, Daniela começou a filmar em favelas e a atuar em
ONGs em 2002, ao voltar de uma jornada de seis anos nos Estados Unidos, onde fez
seu mestrado em jornalismo na University of California - Berkeley, um curso de
cinema na New York University, e trabalhou como editora de websites. Atualmente,
ela é fellow da Fundação Guggenheim de Nova York.
Daniela produziu, dirigiu e fez o roteiro de “Meu Brasil” sem nenhum incentivo fiscal
governamental nem patrocínio. Ela contou inicialmente apenas com um pequeno
apoio de uma fundação européia e com a colaboração do Comitê Rio do Fórum Social
Mundial (FSM).
Quando “Meu Brasil” já estava na fase de pós-produção, Daniela conseguiu apoio da
ONG norte-americana Unitarian Universalist Service Committee, que promove
direitos humanos e justiça social, e das produtoras Base Cinematográfica e Yes
Filmes. Já com um primeiro corte feito, o projeto conquistou mais um parceiro: o
produtor executivo Leonardo Dourado, vice-presidente da Associação Brasileira de
Produtores Independentes de Televisão - ABPI-TV, que viu no filme um importante
retrato do momento social e político na América Latina.
O Filme
Tanto no cinema como na mídia, a favela é retratada como cenário de guerra entre bandidos e 
polícia, de tiroteios entre traficantes, ponto de venda de drogas e tantas outras ações ilícitas.
Mesmo na vida real, é esta a imagem que se tem nas classes mais favorecidas. 
A maioria dos moradores de favelas, no entanto, é formada por trabalhadores e pessoas honestas, 
que batalham para ficar longe do tráfico e das drogas. Entre esses moradores estão os líderes comunitários.
Ora “equilibristas”, ora “malabaristas”, como descreve o líder comunitário Carlos Alberto, eles vivem numa corda bamba,
tentando fazer a ponte entre o poder público, o tráfico e os moradores, para que as favelas não se tornem um verdadeiro caos.
Contundente, “Meu Brasil” foge de clichês, fórmulas e estereótipos para mostrar a realidade das favelas por quem vive e trabalha nelas. 
Em 2007, além de ganhar o prêmio do Júri Popular no Cinesul e ficar entre os finalistas na Mostra Internacional de São Paulo,
Meu Brasil” representou o país como convidado no Encounters South African Documentary Festival (Joanesburgo e 
Cidade do Cabo na África do Sul), e abriu o Festival For Rainbow em Fortaleza. Este ano, o filme foi apresentado na 
ONG VIva Rio no curso de Direitos Humanos e Mídia promovido pela Universidade New School de Nova York e 
está sendo exibido nas principais universidades do Rio de Janeiro e São Paulo. 
A diretora Daniela Broitman também fez apresentações em universidades norte-americanas, 
no Open Society Institute de Nova York, e foi convidada a exibir o filme no Festival da Criatividade em Florença, na Itália.
Sinopse 
O que leva alguém a lutar contra todos os tipos de discriminação, enfrentando intensa pressão do tráfico de drogas e de partidos políticos, com o único objetivo de melhorar a condição de vida de sua comunidade?  "Meu Brasil" se propõe a responder esta questao acompanhando o difícil dia-a-dia de três líderes comunitários.

Gaúcha, cujo sonho era ser cantora, vem do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro à procura de uma vida melhor. Trabalhando como cozinheira na casa da família de Irineu Marinho, ela começa a se politizar. Já o carismático instrutor de mergulho Carlos, depois de sofrer uma grande desilusão amorosa, tenta reerguer sua auto-estima promovendo ecologia e cidadania nas favelas. Enquanto isso, a corajosa travesti Juliana luta pela implementação do terceiro banheiro na pequena cidade de Três Rios. 

Em busca de seus ideiais, eles embarcam para Porto Alegre com outros 30 líderes comunitários numa surpreendente jornada ao Fórum Social Mundial, o maior evento global sobre temas relacionados à Justiça Social. Apresentando: 33 líderes comunitários, José Saramago, Eduardo Galeano, Ignácio Ramonet, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente Hugo Chávez, Gilberto Gil, Frei Betto e Leonardo Boff. Para ver o trailer e obter maiores informações sobre o documentário "Meu Brasil", acesse www.videoforum.tv/meubrasil

Estréia dia 28 de novembro - Sexta-feira - Horário a confirmar
Unibanco Artplex
Frei Caneca shopping
Rua Frei Caneca, 569, 3º piso
São Paulo - SP - tel.: 3472-2365

domingo, 9 de novembro de 2008

TEIA 2008: iguais na diferença

III Encontro Nacional dos Pontos de Cultura

Entre os dias 12 e 16 de novembro de 2008, Brasília será ocupada por diferentes ritmos e cores. A capital do país, durante a semana em que se comemora a proclamação da república será a sede do terceiro encontro nacional dos Pontos de Cultura, que integra o programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, a TEIA 2008, o maior encontro da diversidade cultural brasileira. Mais de 800 representantes e centenas de artistas e ativistas culturais de todas as regiões do país se reunirão na Esplanada dos Ministérios em Fórum, Seminários e Mostra Artística. Um encontro de reflexão e encantamento.

Já realizada nas cidades de São Paulo, em 2006, e Belo Horizonte, em 2007, a TEIA 2008 apresenta um importante diferencial: a elaboração e execução articulada pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPC), formada por representantes eleitos pelos próprios Pontos de Cultura. O destaque desta edição vai para o segundo Fórum Nacional dos Pontos de Cultura (FNPC), que será realizado no Auditório do Museu da República e reunirá representantes dos fóruns estaduais, das ações nacionais, além das áreas temáticas e redes que compõem o programa Cultura Viva.

Reconhecido como a instância política dos Pontos de Cultura, o fórum foi criado na TEIA 2007. Formado por representantes dos mais de 800 Pontos presentes em todo o país, o fórum da TEIA 2008 tem como principais objetivos fortalecer o Sistema Nacional de Cultura, consolidar a TEIA como espaço político-cultural dos Pontos de Cultura, fomentar a construção de marcos legais que reconheçam a autonomia e o protagonismo cultural do povo brasileiro e debater os avanços e desafios na gestão compartilhada do programa Cultura Viva.

60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

A cada edição da Teia é definido um tema. Na primeira, em 2006, realizada no Pavilhão da Bienal de São Paulo, o lema foi "Venha se ver e ser visto". O objetivo era ocupar o principal espaço das artes no Brasil. “Teve o efeito do choque, da quebra de hierarquias na cultura e marcou o início da construção de novas legitimidades” , observa Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura. Em 2007, na capital mineira, o mote foi "Tudo de Todos", na pauta dos debates, a construção de uma cultura comum e a integração entre Educação, Cultura e Comunidade. Com o tema “Iguais na diferença”, a TEIA 2008 celebra os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Seminários, vivências e uma ampla agenda de apresentações artísticas, coordenadas pelos Pontos, também fazem parte da programação da TEIA 2008. Está previsto para o dia 15 de novembro um cortejo rumo à Praça dos Três Poderes para uma “re-proclamação da república através da cultura”. A programação cultural se concentrará no Complexo Cultural da República, estendendo-se por toda a Esplanada dos Ministérios, com programações inclusive em pontos históricos e simbólicos da cultura nacional como o Teatro Nacional e o Espaço Cultural da Funarte.

A mostra artistica será composta por dezenas de espetáculos musicais, teatrais e de dança em diferentes espaços, Teatro Nacional Cláudio Santoro (Sala Villa-Lobos) , Canteiro Central da Esplanada, nos palcos: Iguais na Diferença e Mestre Salustiano, Complexo Cultural da Funarte. A idéia é promover a interação entre artistas consagrados e a produção dos pontos de cultura. Também na grade de programação, a

Mostra da produção audiovisual dos Pontos de Cultura, na Sala Martins Penna e com projeções na Cúpula do Museu da República.

O que são Pontos de Cultura?

Pontos de cultura são iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil, conveniadas com o Ministério da Cultura (MinC), selecionadas por meio de por editais públicos. Atualmente, são mais de 800 Pontos de Cultura espalhados pelo país. O programa do MinC decidiu criar mecanismos de articulação entre os diversos Pontos, as Redes de Pontos de Cultura e os Pontões de Cultura.

Apesar de não apresentar um modelo único de instalações físicas, nem de programação ou atividade, um aspecto é comum a todos: a transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder público e a comunidade. Para se tornar um Ponto de Cultura é preciso participar da seleção por meio de edital público, coordenado pela Secretaria de Programas e Projetos Culturais do MinC.

 

mais informações: http://teia2008. org

Robson Bomfim
Coordenação de Comunicação TEIA 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Samba de raíz no Sesc Pompéia

"Olha quem chega" é o novo CD da sambista
 
  Na próxima quinta-feira, dia 30/10, às 21h,  a sambista D. Inah apresenta seu show de lançamento de seu segundo  CD, (Dabliú/ 2008), voltado exclusivamente à obra do compositor Eduardo Gudin, com dezesseis dos sambas que mais aprecia. No palco, acompanhada por seu grupo, o quinteto Samba Novo, Dona Inah recebe como convidados o Quinteto em Branco e Preto e o sambista João Borba, que também participam do CD.
 
Samba de raiz

Conhecida como D. Inhá, Ignês Francisco da Silva nasceu em Araras (SP) e começou a cantar na década de 50 trabalhando em diversas rádios e orquestras, ao lado de grandes nomes como Isaurinha Garcia, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Aracy de Almeida, etc. Com sua belíssima voz de pastora, afinadíssima e  de imensa simpatia, D. Inah é uma daquelas "jóias" da música brasileira que ficam escondidas a vida inteira, mostrando seu talento a poucos privilegiados atentos.
Todos puderam conhecê-la, quando lançou seu primeiro CD "Divino Samba Meu", em dezembro de 2004,  com direção musical do violonista Zé Barbeiro e direção artística do produtor Heron Coelho.  Neste seu primeiro trabalho cantou músicas de  Nelson Cavaquinho, Jorge Costa, Paulo Vanzolini, Noel Rosa, Ary Barroso e músicas de Eduardo Gudim, que compôs  Samba de Mágoa, especialmente para a cantora.
 
Aproveite e confira o melhor do nosso Samba de Raiz.
Dia 30/10 - Quinta-feira - 21h
Sesc Pompéia - Rua Clélia, 93 - São paulo
Tels.: 11 3871-7700 

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Seja um defensor dos Direitos Humanos!

Curso de Direitos Humanos e Mediação de Conflitos

A Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com o Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil), oferece o curso à distância Direitos Humanos e Mediação de Conflitos. Essa formação pretende contribuir para que lideranças comunitárias, militantes de movimentos sociais e membros de pastorais e comunidades religiosas promovam os direitos humanos e atuem na resolução dos conflitos em suas comunidades.

O curso parte de situações práticas e das necessidades concretas desses militantes e pretende apontar caminhos para solucionar conflitos ligados aos direitos humanos, fornecendo informações sobre órgãos públicos e organizações da sociedade civil, além de um ambiente para a troca de experiências. Seu conteúdo está estruturado nos temas dos direitos humanos e seus conflitos.

Módulos:
1. Direitos humanos e conflitos
2. Violência e não-violência nos direitos humanos
3. Direito à vida, à alimentação e à saúde
4. Direito à moradia, à terra e à cidade
5. Direito à educação, ao trabalho e à assistência social
6. Formas não-violentas de resolução de conflitos
7. Inserindo na luta a não-violência ativa
8. Mediação passo a passo
9. Experiências de mediação popular no Brasil
10. Solidários na diversidade e iguais no acesso à Justiça

O curso é gratuito e realizado pela internet, com acompanhamento de tutores treinados. Pessoas de qualquer lugar do Brasil podem participar.
As inscrições estão abertas e devem ser feitas no site www.dh.educacaoadistancia.org.br.

Quantas vezes você já viveu situações em que teve seus direitos violados?
Nos momentos de confronto, o que fazer, onde ir, com quem falar?
Quais são os caminhos para resolver os conflitos que existem na sua comunidade?

Somos seres humanos e, desde o momento em que nascemos, temos direitos: saúde, moradia, educação, uma alimentação adequada, trabalho, ter uma renda suficiente, entre outros requisitos básicos para viver com dignidade. Eles fazem parte da nossa legislação e são inegociáveis. As pessoas e comunidades, historicamente, têm se organizado – em movimentos, fóruns, associações, sindicatos etc. – para lutar e fazer com que esses direitos aconteçam na prática, não fiquem só no papel. Às vezes pode parecer que, nessa luta, os direitos de diferentes grupos entram em conflito.

De fato, a convivência humana é cheia de conflitos e, muitas vezes, eles podem levar a atos de desespero, intolerância, violência e uma sensação de incapacidade para solucionar os problemas que afetam as pessoas naquilo que é mais fundamental a elas.
Conhecer os direitos humanos e estar preparado para buscar soluções para os conflitos que podem ser mediados, com base no diálogo, respeito, tolerância e solidariedade, são ferramentas poderosas de cidadania.

Seja um defensor dos direitos humanos e aprenda a mediar os conflitos da sua comunidade.
Para mais informações sobre o curso Direitos Humanos e Mediação de Conflitos, acesse o site: www.dh.educacaoadistancia.org.br.
Em caso de dúvida, entre em contato pelo email: dh@itsbrasil.org.br.

Fonte: www.itsbrasil.org.br

terça-feira, 26 de agosto de 2008

NOTA PÚBLICA

Cooperação entre SaferNet
e Google agilizará denúncias de pedofilia


Brasília, 01 de julho de 2008 - Cerca de 400 denúncias de crimes praticados contra os Direitos Humanos por meio do Orkut são enviadas, diariamente, pela SaferNet Brasil para o Ministério Público Federal de São Paulo. Até então, não era possível verificar o conteúdo da maioria das páginas denunciadas, uma vez que este acesso é exclusivo do provedor, no caso a Google.

Até setembro do ano passado, a empresa se recusava a fornecer estas informações para as autoridades competentes (MPF e Polícia Federal), dificultando as investigações e contribuindo para a impunidade de criminosos. Amanhã, no entanto, o histórico de resistência da Google Brasil em colaborar com o enfrentamento do crime de pornografia infantil no Orkut tende a ser superado.

A partir das 9h, durante sessão da CPI da Pedofilia, no Senado Federal, em Brasília, está prevista a assinatura do Termo de Cooperação Técnica e Integração Operacional, entre a SaferNet Brasil e a Google, e o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), entre o Ministério Público Federal e a Google Brasil.

“Nossa expectativa é de que sejam assinados os dois documentos na presença dos senadores da CPI da Pedofilia, que assinarão como testemunhas. Ontem, no final da tarde, recebemos a confirmação da Google de que assinará os dois documentos¨, comenta o presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares.

Além de se comprometer a contribuir, efetivamente, com as autoridades nacionais, por meio do TAC, o acordo com a SaferNet Brasil permitirá grandes avanços no monitoramento e triagem das denúncias de crimes de pornografia infantil e pedofilia no Orkut. A SaferNet Brasil já desenvolveu uma ferramenta automatizada que permite encaminhar denúncias com indícios de crime para a Google e o MPF, simultaneamente.

A ferramenta foi disponibilizada à Google desde março deste ano, porém até então a SaferNet Brasil e o MPF não recebiam respostas da empresa. Com o Termo de Cooperação assinado, a equipe da Google passará a revisar o conteúdo e informará à SaferNet Brasil e ao MPF se existem indícios de crime.

Com base na resposta da Google, a SaferNet Brasil elaborará notícias-crimes e relatórios técnicos de rastreamento e os encaminhará para o MPF, autoridade que requisitará ordem judicial de quebra de sigilo de dados telemáticos. “Essa nova prática agilizará sobremaneira as investigações. As denúncias serão processadas e os dados preservados no prazo máximo de 24 horas”, afirma Thiago Tavares.

Para se ter uma idéia da gravidade do problema, somente no primeiro semestre deste ano (01 de janeiro a 30 de junho), a SaferNet recebeu 22.761 denúncias de pornografia infantil e pedofilia no Orkut (URLs únicas).

Três anos de batalha

Desde que recebeu, em 2005, as primeiras denúncias de pornografia infantil/pedofilia e constatou que 90% destas ocorriam na rede de relacionamentos Orkut, a SaferNet Brasil tenta formalizar um acordo de cooperação técnica e integração operacional com a empresa Google. Além de se recusar a formalizar a cooperação com a SaferNet Brasil, a Google levava meses para retirar do ar as páginas com conteúdo ilícito.

A falta de cooperação efetiva somada às inúmeras tentativas frustradas de contato com a Google Brasil durante os dois primeiros anos de atividade da SaferNet, levou a ONG a protocolar sete representações no Ministério Público Federal contra a Google Brasil. Com base na primeira representação, o MPF intimou, em fevereiro de 2006, o diretor geral da Google, Alexandre Hohagen, a prestar esclarecimentos sobre a distribuição de pornografia infantil e prática de crimes contra os Direitos Humanos no Orkut.

Na época, não só faltou a colaboração da Google Brasil, como a empresa não atendia as ordens da Justiça Federal. A empresa insistia na estratégia de excluir a responsabilidade da filial brasileira, alegando que o banco de dados do Orkut estava armazenado na matriz, Google Inc, com sede na Califórnia. Dessa forma, a empresa argumentava que estava submetida apenas à lei americana e a jurisdição dos EUA.

Por conta dessa posição não colaborativa da Google Brasil, em agosto de 2006, o MPF - baseado em um relatório da SaferNet Brasil, no qual eram listadas 1.202 comunidades e 3.143 perfis relacionados a casos de pornografia infantil e pedofilia no Orkut - entrou com ação civil pública, requerendo uma multa de R$ 200 mil para cada caso de descumprimento de ordem judicial pela Google Brasil, sediada em São Paulo. Na época, havia 38 decisões judiciais não cumpridas.

O MPF pediu ainda a condenação por dano moral coletivo no valor de R$ 130 milhões, além da dissolução da empresa brasileira, caso a recusa persistisse. Esta ação segue em trâmite na Justiça Federal de SP, disputa que terá fim com a assinatura, amanhã, do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Diante da falta de diálogo e de providências efetivas da Google Brasil, a SaferNet protocolou ainda pedido de providências na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDHM), bem como no Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR), anexando um dossiê com 220 páginas de denúncias de pornografa infantil e pedofilia no Orkut.

A CDHM também tentou, sem sucesso, obter a assinatura de um acordo de cooperação com a Google Brasil. Somente, em outubro de 2007, após a repercussão na imprensa internacional do crescimento exponencial dos casos de pornografia infantil e pedofilia no Orkut, denunciados pela SaferNet, a Google Brasil passou a receber e responder as ordens judiciais diretamente.

A empresa chegou a procurar o SaferNet Brasil em setembro do ano passado, anunciando disposição para cooperar e assinar um acordo que desse fim ao conflito. No entanto, mais de nove meses se passaram desde a primeira reunião com os diretores da Google Brasil, e a empresa norte-americana resistia a formalizar a cooperação com o Brasil.

Além de todo o histórico já citado, o avanço na postura da empresa com relação à grave problemática sediada no Orkut é resultado da convocação, pela CPI da Pedofilia no Senado Federal, do Diretor Geral da Google Brasil, Alexandre Hohagen, para depor pela segunda vez na CPI, bem como da enérgica, competente e corajosa atuação dos Procuradores da República que integram o Grupo de Combate a Crimes Cibernéticos do MPF em SP.

A negociação da Google com a SaferNet Brasil foi longa. Somente os representantes da ONG sentaram à mesa para negociar mecanismos de cooperação com representantes da Google 17 (dezessete) vezes (cinco delas após a primeira convocação pela CPI do diretor geral da Google), além de inúmeras áudio-conferências desde setembro do ano passado.

Enquanto as produtivas reuniões técnicas entre os engenheiros da Google e da SaferNet evoluíam a passos largos, a formalização do acordo esbarrava na intransigência do Departamento Jurídico da empresa. Foi por conta dessa resistência da Google em formalizar os acordos que o MPF decidiu dar um ultimato para o encerramento das negociações extrajudiciais.

Em paralelo, a CPI aprovou, em 26 de junho de 2008, o requerimento 109/08, determinando a transferência de todas as denúncias anônimas de pornografia infantil e pedofilia no Orkut, recebidas em 2008, pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (www.denunciar.org.br), criada pela SaferNet Brasil e operada em parceria com o MPF desde 29 de março de 2006.

Apesar de a SaferNet Brasil contribuir voluntariamente e integrar o Grupo de Trabalho da CPI da Pedofilia, o requerimento do Senado era preciso em função do Termo de Mútua Cooperação Técnica, Científica e Operacional assinado entre a ONG e o MPF. Este termo determina que todas as denúncias que envolvem provedores sediados em São Paulo, como o Orkut, devem ser encaminhadas, exclusivamente, à Procuradoria da República para investigação.

A SaferNet Brasil cumpriu o requerimento e entregou, ontem, um relatório atualizado, contendo 114.961 denúncias anônimas de supostos casos de pornografia infantil e pedofilia no Orkut, no período de 01 de janeiro a 30 de junho de 2008. As denúncias recebidas pela Central Nacional de Crimes Cibernéticos envolvem 22.761 URLs diferentes, sendo 2.551 comunidades e 20.210 perfis.

Após, portanto, quase três anos de queda-de-braço entre autoridades nacionais e ativistas da sociedade civil, a Google Brasil assegurou, ontem - poucas horas antes de vencer o prazo final determinado pelo MPF para encerramento das negociação extrajudicial -, que assinará o TAC e o Termo de Cooperação com a SaferNet Brasil.

Um novo capítulo na história da Internet, muito mais produtivo e colaborativo, começa a ser escrito a partir de amanhã. “A assinatura destes acordos encerra um ciclo muito difícil na história da Internet no Brasil, e inaugura uma nova fase no relacionamento entre a indústria de Internet, as autoridades públicas e a sociedade civil. Esperamos que as conquistas brasileiras inspirem o aperfeiçoamento do atual modelo global de governança na Internet¨, declara Thiago Tavares, fundador e presidente da SaferNet Brasil.

Sobre a SaferNet Brasil

A SaferNet Brasil é uma associação civil sem fins lucrativos e econômicos, sem vinclulação político-partidária, nem religiosa, nem racial, fundada em 20 de dezembro de 2005 por um grupo formado por cientistas da computação, professores universitários, pesquisadores e bacharéis em Direito.

A SaferNet Brasil criou a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (www.denunciar.org.br), que desde 29/03/2006 é operada em parceria com o Ministério Público Federal, para oferecer o serviço de recebimento, processamento, encaminhamento e acompanhamento on-line de denúncias anônimas sobre qualquer crime ou violação aos Direitos Humanos praticado por meio da Internet. O serviço atende os rígidos padrões técnicos e operacionais fixados pelos organismos de padronização e certificação internacionais.

A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos é única na América Latina e Caribe, e recebe uma média de 2.500 denúncias (totais) por dia envolvendo páginas contendo evidências dos crimes de Ponografia Infantil ou Pedofilia, Racismo, Neonazismo, Intolerância Religiosa, Apologia e Incitação a crimes contra a vida, Homofobia e maus tratos contra os animais.

Para realizar este trabalho, foi desenvolvido um sistema automatizado de gestão de denúncias, baseado em Software Livre, que permite ao internauta acompanhar, em tempo real, cada passo do andamento da denúncia realizada por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Do total de denunciantes, 99% escolhe a opção de realizar a denúncia anonimamente. E ao 1% restante é garantido total e completo anonimato.

Desde abril de 2007, o projeto conta com o apoio da Childhood Brasil, braço brasileiro da Childhood International, fundação criada pela S.M. Rainha Silva da Suécia; da Rede Nacional de Pesquisa (RNP); e do Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Fonte: PRESS RELEASE - SaferNet Brasil

domingo, 3 de agosto de 2008

Direitos Humanos

Até quando defensores dos
Direitos das Crianças serão ameaçados?

A Jornalista, psicanalista Vera Mattos, me concedeu, diretamente da Bahia, esta entrevista exclusiva onde relata tudo o que tem passado todo este tempo em sua luta pelos Direitos Humanos, não desistindo nunca de lutar por justiça, por mais ameaças que receba dos poderosos!

Sandrah - Você é presidente da Fundação Jaqueira que leva o nome de sua mãe, Maria Lúcia Jaqueira de Mattos. Com ela que você iniciou na luta pelos Direitos Humanos?

Vera Mattos – Hoje percebo que sim. Que minha mãe trouxe enormes exemplos para aqueles que conviveram com ela. Mesmo sendo de famílias tradicionais, e com recursos, ela sempre estabelecia a igualdade como prática diária. Tratar bem os empregados, jamais fazer diferenças;dividir o alimento disponível e não as sobras; vestir aqueles estivessem com frio; dar socorro aos necessitados e jamais negar ajuda quando o assunto estivesse ao nosso alcance.

Mesmo quando muito jovem e solteira minha mãe praticou uma espécie de democracia do ensino. Nascida e criada em Salvador logo após formar-se em professora foi para o interior da Bahia, onde alfabetizava adultos nas fazendas da região sudoeste. Ali ela começaria a estabelecer que fazendeiros e empregados teriam que estudar juntos nas mesmas salas e com as mesmas condições. Em alguns casos era alfabetização noturna. Ela era bastante jovem e idealista mas com seus 18 anos já conseguia feitos importantes. E assim continuou a sua vida sempre pregando igualdade e fraternidade.

Sandrah - Quais as principais ações da Fundação Jaqueira na atualidade e como se desenvolve seu trabalho?

Vera Mattos - Antes da morte da minha mãe já existiam algumas homenagens a ela na Bahia, entre as quais o Colégio Maria Lúcia Jaqueira no muncipio de Jequié, Bahia. Para nossa surpresa também foi criada a Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos homenagem que recebemos com muita honra e alegria. Inclusive realizamos doações significativas como por exemplo todo acervo pessoal dela, incluindo desde sua bibilioteca até obras de arte famosas.

Eu acredito sinceramente que a Fundação nasceu antes mesmo da sua criação. Lembro de quando pequena ter em minha casa diversas pessoas que ficavam sob ajuda de minha mãe.

Eram pacientes com câncer que ficam aguardando vagas em hospitais e como não tinham condições de trabalhar minha mãe os colocava em casa. E aí me refiro ao grande preconceito gerado pela doença e os sentimentos que provocava nas pessoas. Minha mãe era chamada por movimentos principalmente da igreja católica e hospedava em casa, cuidando pessoalmente deles.

Neste ambiente em que prevalecia a caridade é que fui criada. Quero dizer que ela e as tias Sidronia, Esther e Etelvina Jaqueira formavam um grupo de mulheres além do seu tempo.

Era como se a Fundação já existisse pois viviam para as práticas humanísticas.

No decorrer destes anos em que estou a frente da Fundação, a partir de 2003, busquei principalmente atender os mais necessitados porque é o que mais temos em nosso Estado. Fui constituindo uma bela equipe de voluntários e passamos a realizar atendimentos de qualidade, oferecendo inclusive em áreas privilegiadas da saúde e que nem mesmo os convênios particulares cobriam.

Realizamos mutirões de saúde que incluem psicologia, fonoaudiologia, gerontologia, psicopedagogia. Nosso programa para TDAH – Transtorno do Déficil de Atenção Humana conseguiu alcançar milhares de pacientes.


Ameaças por defender crianças dos

abusos e violências de todo tipo

Sandrah - No decorrer da defesa pelos Direitos Humanos como chegou aos poderosos e o quais eventos levaram a que eles chegassem a te ameaçar?

Vera Mattos - Através da militância e do ativismo político fui me informando cada vez mais sobre Direitos Humanos. E saí da prática para os estudos sendo hoje Conselheira em Direitos Humanos através de certificação recebida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

Mas foi na prática do atendimento em psicanálise e psicopedagogia que chegaram os casos de abusos e violência cometidas contra crianças, tanto meninas quanto meninas. A Fundação prestava atendimento as vítimas e suas famílias.

A partir daí, alguns casos específicos se transformaram em motivos para graves ameaças pois ao acompanhar crianças e em alguns casos toda a família, oferecíamos relatórios conclusivos a pedido da justiça . Além disso, como presidente da instituiçao eu tinha que ir depor em juízo.

Também quando as crianças estavam sendo atendidas dentro da Fundação tínhamos que ficar atentos a possibilidade de seqüestro delas pois sabíamos que os pedófilos estavam dispostos a tudo.

As ameaças passaram a existir a partir destes atendimentos sendo que as ameaças mais significativas partiam exatamente dos agressores com maior condição financeira e que sequer admitiam culpa.

Aliás, nem admitiam que suas famílias fossem tratadas psicologicamente. Desgraçadamente, alguns destes pedófilos consideram absolutamente normal o que praticavam mesmo quando as vítimas tinham dois anos de idade.

Então, respondendo a sua pergunta, desde que passamos a fornecer informações para construção de processos judiciais comecei a entrar em risco pessoal e a sofrer ameaças que me permitiam viver até o primeiro semestre do ano de 2006.

A partir do segundo semestre de 2006, a partir de um caso que está sob segredo de justiça, eu e a minha família passamos a ser ameaçados diretamente. Enfrentamos assaltos dentro da própria Fundação, carros nos seguindo, assaltos seguidos de agressão física, assaltos a mão armada, seqüestro relâmpago etc. Passei a ser seguida e vigiada.

No segundo semestre até o show beneficente para a Fundação, em 16 de dezembro de 2006 foi assaltado, levando-se o dinheiro da sonoplastia e bens dos artistas presentes naquele momento. Logo após a unidade da Fundação que ficava na cidade baixa foi completamente assaltada, levando-se todo acervo pessoal da homenageada. Também todos os computadores foram levados assim como nosso parque tecnológico. Nada sobrou.

As ameaças continuaram mesmo após isto. Eu diria que a palavra certa seria a tortura psicológica. Até nos espaços públicos onde a Fundação atendia passei a ser procurada por homens estranhos.

O resultado são mais de vinte mudanças de moradia, foi deixar de atender pessoas para não colocar as demais em risco. Minha família foi sensivelmente prejudicada. Minha filha já não freqüenta universidade há um ano. Deixei de ter telefone fixo e pelo celular recebia todo tipo de ameaças e sempre com a informação de que sabiam onde me encontravam.

O último em plena greve da polícia em Salvador avisava sobre o seqüestro da minha filha.

Fui para dentro de uma Delegacia para fazer mais um boletim de ocorrência.

Infelizmente, na Bahia tudo é extremamente lento. Algumas instituições são sérias e entre elas cito o Ministério Público do Estado da Bahia e o Promotor das Fundações Luiz Eugênio Miranda. Também a atuação da delegada Isabel Alice titular da DEAM. O Núcleo de Justiça e Direitos Humanos da Secretaria de Justiça e em especial na pessoa de Mônica Bittencourt.

Infelizmente, os outros órgãos são lentos, ineficazes e ineficientes. Dois anos o começo da nossa história e nada anda. Inquérito policial concluído. Todo prejuízo moral, familiar, profissional. Todos os danos estão aí.

Hoje o pedófilo é beneficiado pelo segredo de justiça quando não há flagrante. Quando a justiça julga improcedente as queixas o elemento é liberado e transforma a vida das pessoas em um verdadeiro inferno.

Infelizmente, existem juízes completamente despreparados para julgar estes casos. Ou poderia dizer benevolentes para com os agressores e que colocam em dúvida até o testemunho das mães. E creio que existem outros que diante do desenho de uma criança atingida não apresentam qualquer sensibilidade. E digo mais: para eles laudos psicológicos não importam e não acrescentam. Somente um laudo interessa: o do instituto médico legal que prova se houve conjunção carnal através da violência. Há casos em que os homens dizem ter sido seduzidos por crianças de cinco a seis anos.


Sandrah - Sabemos que a Pedofilia grassa por todo o país e só aparece na televisão quando os casos estão resolvidos, como está seu trabalho quanto a esta questão e quais os desdobramentos?

Vera Mattos - A Fundação não pode parar. Continuamos trabalhando. Por uma questão de segurança e para principalmente não colocar em risco os demais profissionais eu não compareço em eventos públicos. Estou sempre escondida, com endereço incerto e vivendo de maneira precária. Atualmente estou em uma favela onde assisto a situações dramáticas mas encontro solidariedade. Da mesma forma, dentro do possível procuro auxiliar aos moradores de lá.

O meu caso e o da Fundação estão no Ministério Público do Estado da Bahia.

De um delegado muito experiente na Bahia ouvi o conselho de deixar Salvador e ir embora daqui pois sou testemunha e arquivo vivo. Portanto, que a polícia não pode me assegurar qualquer proteção, que eu saia com a minha família daqui.


Violência contra a mulher de todas as classse sociais

Sandrah - Sabemos que defende a mulher que sofre violência. Existe um perfil próprio de mulher que sofre violência na BAhia e no Brasil, quais são os dados desta questão. Você acredita que ainda há impunidade?

Vera Mattos – Não, não existe um perfil próprio. Mulheres de todas as classes sócio-econômicas sofrem violência seja física ou psicológica. Nem sempre os dados correspondem a realidade e os dados oficiais estão aquém da violência cometida.


Sandrah - Na Bahia, a Lei Maria da Penha é cumprida, porque a própria Maria da Penha foi beneficiada apos 7 anos, como você vê a questão das punições?

Vera Mattos Na Bahia foi criada uma rede de mulheres para acompanhar especificamente a situação. Acredito que temos que estabelecer uma nova cultura onde a mulher sinta segurança suficiente para dar queixa e depois levar o processo a frente. Antes da Maria da Penha as mulheres ofereciam mais queixas. Hoje, quando sabem que não poderão voltar atrás, elas temem e acabam com isto reduzindo o número de casos registrados.

Na Bahia não existe estrutura suficiente para a demanda. Falta tudo: desde estrutura suficiente para abrigar vítimas e testemunhas como profissionais como delegados, promotores e defensores.

Sandrah - Quanto a pedofilia, os psicólogos alertam que o pedófilo é um doente e em muitos casos, também sofreu abusos na infância. Existe alguma forma de prevenção ou de alerta às famílias que você possa dar?

Vera Mattos – Eu discordo. Nem sempre o pedófilo é um doente. E também é mito que eles tenham sofrido abuso na infância. Isto somente serve como argumento de absolvição.

As formas de prevenção começam na família que é aliás um dos principais meios em que ocorrem a pedofilia principalmente a silenciosa. Quando todos são cúmplices porque sentem vergonha em denunciar alguém da família, esquecendo que tem alguém sofrendo muito e precisando de ajuda urgente.

Sandrah - Quais as providências que deveriam ser tomadas pela Justiça Brasileira, tanto quanto a defesa dos direitos das crianças e do adolescente, quanto os direitos das mulheres?

Vera Mattos Leis existem e são muitas. A questão do Brasil é o cumprimento das leis.

Daniel Ponte também sofre represálias no Rio de Janeiro

Sandrah - Como você vê a defesa dos próprios ativistas dos Direitos Humanos, uma vez que muitos estão sendo ameaçados de morte. Que solução você imagina? A Anistia Internacional atua na defesa das lideranças? A Onu se pronuncia? Como você vê esta questão?

Vera Mattos – Hoje eu diria a um jovem defensor: você vai entrar nesta área por sua conta e risco. Nada espere do Estado. Nada espere do seu governo. Nós somos abandonados a nossa própria sorte. A partir do momento que passamos a ser vítimas a única voz que temos é a da imprensa.

Cito aqui o caso do médico Daniel Ponte que denunciou a barbaridade do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro e hoje é caçado pela própria máfia carioca. Enquanto ele é ameaçado permanentemente, não pode trabalhar, sofre todas as torturas psicológicas, os poderosos do Rio de Janeiro levam suas vidas confortavelmente com o dinheiro do crime.

Você poderá também verificar os nomes dos defensores mortos nos últimos anos.

O Brasil parou nesta área. Criou ministério, secretarias e cargos. Mas no meu caso por exemplo não recebo uma ligação oficial e nenhuma ajuda oficial.

Sandrah - O que você diria para as lideranças de todo o Brasil quanto a defesa dos Direitos Humanos e o apoio efetivo aos ativistas? como articular uma rede eficaz para não se ter tantas ameaças.

Vera Mattos – Honestamente, acredito que estamos distantes disto. Somente as organizações internacionais podem ajudar. A dificuldade de articular uma rede me parece maior pelo fato de que o País tem grandes distâncias e que somos vigiados de todas as formas pelas redes de criminosos. Enfim, estamos entregues a própria sorte.
Sandrah - A Fundação Jaqueira está responsável por mais atendimentos, de que tipo? Atende a mulheres, crianças, idosos como é esta atividade e como mantê-la? Nesta campanha para ajudar, o que cada liderança pode colaborar e que tipo de apoios efetivos já tem?

Vera Mattos – Embora a Fundação Maria Lúcia Jaqueira tenha obtido o título de utilidade pública ainda não recebemos qualquer recurso governamental.

Precisamos de muita ajuda para atender as comunidades carentes. Peço que visitem o site http://www.fundacaojaqueira.org.br


Sandrah - Quanto a captação de recursos, entidades de fora da BAhia podem auxiliar? O que você diria a respeito.

Vera Mattos – Sim, claro que sim. Todos os recursos serão bem apreciados. Precisamos de toda ajuda até porque acredito que somente a sociedade organizada pode mudar o caos social que vivemos.

Agora, precisamos arrecadar recursos para uma das nossas unidades que ficam em favelas com milhares de famílias vítimas da violência. Precisamos de recursos para sopa,

para roupas, para construção de espaços. Temos profissionais voluntários mas não temos recursos para dar continuidade aos trabalhos dentro do ritmo exigido.

Hoje a Bahia apresenta um elevado índice de criminalidade. As mães perdem seus filhos para a guerra do tráfico aqui instalada. As mulheres perdem seus maridos. Na maioria das vezes os cadáveres de negros e pobres são sepultados sem qualquer presença familiar pelo temor dos parentes de também se tornarem alvos. Vivemos a sociedade do medo.

A injustiça e a desigualdade social imperam por aqui. O crime é a única escola freqüentada pelas crianças da periferia e das favelas que ficam dentro dos bairros nobres. É uma triste Bahia.

A FUNDAÇÃO MARIA LÚCIA JAQUEIRA DE MATTOS contabiliza mais de 20 mil pacientes atendidos, em 06 anos de existência, por profissionais voluntários, atuantes, capacitados, procurando realizar o máximo, dentro dos seus limites.
A Fundação jaqueira está precisando de doações urgente.
Doações devem ser feitas na:


AGÊNCIA: 1517
CONTA CORRENTE: 580.370-3
OPERAÇÃO: 03

CAMPANHA DE DOAÇÕES 2008.1
Deposite o que for possível; o que seu bolso, bom senso e coração permitirem!
Amigos(as), a Fundação Jaqueira necessita com urgência de doações de computadores novos ou usados. Eletrodomésticos, Celulares, Computadores, máquinas de lavar. Alimentos não perecíveis, Cestas básicas, roupas: adulto e infantil. Calçados: adulto e infantil, móveis. Doações em espécie. Estamos atendendo crianças, gestantes carentes e idosos. Queremos a sua ajuda para doações de enxovais dos bebês!


quinta-feira, 24 de julho de 2008

25 de Julho Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe

Mulheres Negras:

Ancestralidade e resistência em

luta por caminhos de igualdade



Foto de imagens do google.com

O Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha foi criado em 25 de julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Estipulou-se que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Tendo em conta a condição de opressão de gênero e racial/étnica em que vivem as mulheres negras, explícita em muitas situações cotidianas.

Nós, mulheres negras estamos nas ruas para denunciar e combater o racismo e o sexismo estamos reafirmando a trajetória de luta de nossas ancestrais, mulheres que foram arrancadas de suas famílias, sociedades, culturas, modos de viver na África, mulheres que criaram um modo de vida neste continente chamado América.

Mulheres como Nany na Jamaica, como Jacuba, Júlia, Dorothea, Una e Effa nas Guianas que enfrentaram os senhores de escravos, mulheres como Rosa Parks que se recusou a dar o seu lugar num ônibus a um homem apenas por este ser branco iniciando nos Estados Unidos o Movimento dos Direitos Civis. Mulheres como Maria Felipa que lutou na guerra da independência na Bahia, mas não é lembrada no Dois de Julho, Zeferina, Luisa Mahim. Mulheres negras que cotidianamente trazem na pele, no rosto, no cabelo, no sorriso a sua força e a certeza de que podem mudar essa situação.

Nós, mulheres negras estamos aqui para denunciar como a nossa sociedade é perversa, como ela maltrata as suas filhas e filhos, como ela, mata as nossas crianças, adolescentes e jovens negros. Essa sociedade mata com a violência do aparelho repressor do Estado, mas mata também quando não pune estes agressores, mata quando nos empurram para a marginalidade, mata quando não investe na saúde pública, quando deixa que as nossas jovens morram em função dos abortos clandestinos por falta de atendimento médico e por pura hipocrisia dessa sociedade. Mata quando nos empurram para as ocupações em prédios públicos abandonados onde os ratos são os nossos animais de estimação, onde moradia digna é piada. Esta sociedade nos mata quando fecha os olhos à violência doméstica, nos mata quando riem por sermos negras e nos impõe um modelo de beleza branca que é cruel. Mata quando permite que o a educação pública básica não atenda as necessidades do nosso povo.

Muitas mulheres morreram e morrem por tudo isso, mas nós estamos bem vivas e lutando para reafirmar o nosso compromisso com as lutas dessas mulheres e das nossas ancestrais de construir um espaço de poder em que o racismo e o sexismo sejam permanentemente combatidos.

Poder para o povo negro! Poder para a Mulher Negra!

Negras e Negros rumo à presidência


Dia 25 haverá três grandes atividades:

Pela manhã uma Audiência Pública; Exigindo a reabertura imediata da DEAM de Periperi convidados; OAB, Ministério Público, ANAAD, governo do estado e outras representações ás 09h no Colégio Estadual de Praia Grande - Rua Rosalvo Barbosa Romeu S/N – Periperi

A tarde a II Caminhada Mulheres Negras Ancestralidade e Resistência em Luta por Caminhos de Igualdade, concentração ás 14h do Campo Grande até a Praça Castro Alves

Uma Questão de Gênero e Raça – Prêmio Luiza Mahim reflexão na temática da Mulher Negra, suas lutas e resistência. Teremos a entrega do prêmio a 10 mulheres negras

Local; terreiro Oxumaré ás 19h – vasco da gama

O objetivo das atividades é proporcionar um espaço formação e discussão sobre o papel da mulher negra na sociedade.

Entidades que estão construindo as atividades

Coletivo de Entidades Negras

Fórum de Entidades do Subúrbio

Grupo Amuleto

Afoxé Ilê Oya

Afoxé filhos de Nanã

Círculo Palmarino

Aspiral do Reggae

Grupo de Estudante Cotista da UFBA – Mojubá

Afoxé Kuabalagwaze

Monas Odara

Terreiro Oxumaré

Ilê Axé Omim Ewá

Ginga do Negro

Grupo de Mulheres do Alto das Pombas

Fórum da Juventude Negra

Grupo de Cultura Popular Vandré

Associação Rastafary

Afoxé Filhos do Congo

Atitude Quilombola

Associação Renascer Mulher

Grupo de Mulheres SILOÉ

Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu

Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê

Ass. Rastafary Cultural Linda Flor

Resistência Comunitária

Sociedade B. e Recreativa do Calabar

Furação 2001

Contatos. Lindinalva de Paula 9933-4033

Raimunda – 9115-2432

Fonte: WWW.UBMULHERES.ORG.BR